O que "Harry Potter" e "O Senhor do Anéis" podem dizer sobre o Fascismo?


Gosto muito da literatura "mainstream" e "geek" porque sempre tem um ensinamento muito legal. Não sou o melhor leitor das histórias que citarei, apesar disso, sou atrevido na análise bem simplória com o objetivo de pensar o fascismo. 

Nos escritos de J. R. R. Tolkien (1892-1973), surge na Terra-Média um medo/perigo inominado e que havia estado no "vazio" por muito tempo. O vazio para Tolkien simboliza o lugar do esquecimento, da dimensão distinta do campo existencial. Por sinal, o esquecimento se estabelece por uma inexistência linguística e definidora. Desse "não-ser" surge/emerge "Sauron", que corrompe os corações humanos e pretende subjugar todos os povos de distintas raças (elfos, anões, Hobbits, Ents...). Sauron busca um governo autocrático quando maliciosamente presenteia os povos e raças com anéis de poder, para secretamente forjar no "Fogo da Perdição" o "Um anel" que impera sobre todos os outros. 


Por sorte, três dos anéis dados aos elfos são escondidos (não tocados pela maldade de Sauron) e o desenrolar da história os que leram os livros e/ou assistiram os filmes saberão. O "um anel" é um parasita moral que se apropria dos seres que o encontram com a finalidade de se unir ao seu verdadeiro mestre. 

Já a escritora J. K. Rowling, ao escrever sobre o mundo paralelo dos bruxos na saga "Harry Potter", conhecemos a história do "garoto que viveu" e sobre "aquele que não deve ser nomeado". A história de "Voldemort" surge a partir de "Tom Riddle", um jovem cego pelo ódio e pelo abandono do pai "trouxa" (levado ao orfanato) que havia estado com sua mãe bruxa até o fim de uma "poção do amor". Seu ódio pelos trouxas (sem magia) torna-se maior pelo preconceito dos próprios bruxos de sua época (com uma ideia de raça bruxa "pura"). O simbolismo de "despedaçar" a alma é muito interessante de se notar. Ele surge como Voldemort quando abdica de qualquer fragmento de humanidade. Com isso, torna-se temido e querido por servos que compactuavam com seu projeto de subjugação dos "trouxas" ou "não magi". Esses que ele odiava como ao próprio pai. Ao ser gravemente ferido por uma "magia antiga" (amor) que a mãe de Harry conjurou sobre seu filho, viveu no entre-planos ou como um "morto-vivo". Só toma corpo físico a partir de encantamento feito com três ingredientes: O osso do pai morto (passado traumático e fonte da mágoa), sangue do inimigo (simbolizando o ódio) e pedaço de um servo (simbolizando o apoio ao mal). 



Quando Harry se encontra com Dumbledore num entre-planos (no sétimo livro), escuta do professor: "Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia. Capazes de formar grandes sofrimentos e também de remediá-los". Harry sente pena do decrepito fragmento de alma de "Valdemort" e o professor pacientemente o repreende do sentimento, falando: "Não tenha pena dos mortos. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor". 

Fico pensando quais seriam os ingredientes que constroem no coração humano um caminho para o fascismo? Eu realmente não sei. Mas vale a pena pensarmos a respeito. As histórias acima trouxeram suas versões. "O medo inominável" e "aquele que não deve ser nomeado" são tratados como o medo do mal não pronunciado. Mas é justamente com a afirmação de seus nomes que a batalha acontece e os inimigos derrotados. E nem estou pensando aqui no Bozo. Eu penso que o "medo" ou "perigo" está no pensamento, sentimento, amalgama de ideais, por trás dele... E que estavam por trás de Aécio... E que estavam por trás do Golpe de 64. Só a informação dará fim nisso? Eu não sei. Mas agora pelo menos podemos visualizar e combater essa ideia do coração da nossa população tão castigada. O inimigo não é o povo brasileiro, muito menos o coiso em si, mas nas ideias por trás dele, agora visíveis e bem localizáveis.

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